Uma grande carreira de comissário

Após 63 anos de carreira, comissário de bordo americano pensa em se aposentar

Considerado o funcionário com mais tempo de carreira nos EUA, Ron Akana, 83, relembra mudanças na aviação e nos passageiros

The New York Times 

 

 À medida que os passageiros embarcavam no voo 618 da United Airlines com destino ao Havaí no mês passado, eles passavam por um comissário de bordo de cabelos grisalhos que usava óculos e os cumprimentava dizendo: "Aloha, sejam bem-vindos a bordo".

A maioria dos passageiros parecia mais interessada em achar seus respectivos assentos do que em prestar atenção na tripulação, mas o comissário de bordo Ron Akana se destacava - e não apenas por causa das 11 condecorações pregadas na lapela de seu uniforme. A primeira foi para comemorar o seu aniversário de 10 anos como comissário de bordo e as outras para cada cinco anos extras de voo.
Ron Akana prepara copo de suco de laranja para passageiro a bordo de avião da United Airlines (25/02)
Akana trabalhou como comissário de bordo durante 63 anos, chegando a atingir cerca de 20 milhões de milhas aéreas ao longo do caminho, o equivalente a rodar o mundo cerca de 800 vezes ou de voar até a lua e voltar cerca de 40 vezes. Embora ninguém se preocupe muito em registrar o tempo de carreira de seus funcionários nas companhias aéreas, ele é considerado um dos comissários de bordos mais antigos dos Estados Unidos.
"As pessoas vivem me dizendo que eu deveria me inscrever no Livro dos Recordes", disse. "Vou deixar que outra pessoa conquiste o título."
Akana, 83, já viu muita coisa ao longo de sua carreira. Antigamente, quando começou a voar, ele presenciou passageiros que se vestiam impecavelmente e que se reuniam no bar do avião para comer salada de frutos do mar. Mas ele também representa uma profissão cujo glamour tem desaparecido com o passar do tempo e se tornado nada mais do que um trabalho árduo e de longas horas.
Mais de 40% dos cerca de 110 mil comissários de bordo dos Estados Unidos tem 50 anos ou mais, segundo uma análise de dados do censo feita em 2010 por Rogelio Saenz, um sociólogo da Universidade do Texas que estudou as mudanças demográficas dos comissários de bordo. Menos de 18% tem 34 anos de idade ou menos.
Akana não é o comissário de bordo mais velho dos Estados Unidos. Esse título na verdade pertence a Robert Reardon, 87, da Delta Airlines. Ele iniciou a sua carreira em 1951, dois anos depois que Akana começou a voar, sendo um dos primeiros homens "comissários" contratados pela United Airlines em 1949 para voar entre o continente e o Havaí.
Akana ficou com o 1º lugar na United Airlines nos últimos cinco anos, desde que Iris Peterson se aposentou aos 85 anos, após 60 anos de serviço.
Embora muitos de seus colegas ainda estejam trabalhando porque precisam, Akana disse que não trabalha apenas pelo salário. Logo após ter completado 70 anos, Akana estava entre os comissários de bordo mais bem pagos da companhia, ganhando US$ 106 mil por ano - incluindo salário, pensão e previdência social.
Como o primeiro na lista da recém-integrada United-Continental, Akana sempre recebe a escala que quer. Ultimamente isso tem significado viagens de apenas três dias por mês saindo de Denver para Maui ou Kauai. Ele passa uma noite na ilha, tentando marcar almoços com velhos amigos ou uma partida de golfe se der tempo, antes de ter de voltar para sua casa em Boulder, Colorado.
Ao longo dos anos, Akana levou sua mulher e os dois filhos para viajar ao redor do mundo, inclusive para passar férias na Austrália, Nova Zelândia, Europa e Hong Kong, além de passeios de fim de semana para Chicago para que as crianças tivessem a oportunidade de experimentar a pizza local.
Akana tinha apenas 21 anos quando preencheu sua inscrição para a vaga, em 1949 - junto com outros 400 indivíduos –, para ser um dos oito comissários que ocupariam as vagas para as ilhas havaianas.
"Para um garoto havaiano, a ideia de conhecer o continente americano era algo emocionante", disse Akana, que nasceu e foi criado em Honolulu. "Olhei em volta e pensei: 'nunca vou conseguir esse emprego'. Havia outros 400 caras junto comigo, sendo que a metade deles estava vestindo terno. Eu vestia uma camisa havaiana, pois era a única que tinha".
Bill Clinton, Bing Crosby, Sammy Davis Jr. e Red Skelton estiveram entre os passageiros notáveis que Akana teve a honra de servir.
Os passageiros costumavam se vestir bem para voar. "Todos os homens usavam terno e gravata. E as mulheres sempre vestiam as últimas tendências da moda", Akana lembrou. "Ninguém sequer sonhava em andar de chinelos pelo avião."
Mas nem tudo era uma maravilha, é claro. Naquela época, recorda Akana, a cabine ficava repleta de fumaça de cigarro à medida que os passageiros os acendiam após a decolagem. Entre os voos o avião era pulverizado com pesticidas, mesmo enquanto os comissários de bordo ainda estavam na aeronave. Ele viveu por décadas de desregulamentação da indústria e de uma economia turbulenta, que incluíram empresas indo à falência e cortes que acabaram com a maioria dos serviços nos voos.
E como consequência disso tudo, segundo ele, seu trabalho mudou fundamentalmente e a atenção ao serviço já não é tão significativa quanto era quando ele. "Hoje focamos mais nos procedimentos de segurança", disse ele.
Apesar de tudo, Akana manteve-se um homem leal à empresa, embora comece a pensar na aposentadoria. Depois de tantos anos de voo, ele e sua mulher querem viajar pelo país de trailer ou até mesmo fazer um cruzeiro.

Por Michelle Higgins

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